Tim Jackson: “prosperidade não é sinônimo de riqueza”

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Dois dias depois de lançar oficialmente, em São Paulo, a versão para o português do livro "Prosperity Without Growth: Economics for a Finite Planet", o professor de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Surrey, na Inglaterra, esteve na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP para falar sobre a obra e participar de um debate em torno de suas ideias. O encontro, realizado no último dia 30 de outubro, foi organizado pela FEA e pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, sob a coordenação do Prof. Ricardo Abramovay. Editado em 17 países, o livro chega às livrarias brasileiras por meio da editora Planeta Sustentável, com o título "Prosperidade sem Crescimento: Vida Boa em um Planeta Finito".

Tim Jackson acredita que, num mundo de recursos finitos, pode-se prosperar sem o crescimento desenfreado da economia, que tanto estimula o consumo. Ele defende uma nova visão de prosperidade baseada num conceito em que seja possível suprir as capacidades de progredir dentro dos limites ecológicos do planeta. O debate teve a participação do Prof. Samuel Pessoa, da FGV, que foi escolhido por ter uma abordagem macroeconômica diferente da de Tim Jackson. "Como bom macroeconomista, a grande preocupação do Samuel é o crescimento, que o Tim coloca num plano menos importante do que a prosperidade", afirmou o Prof. Ricardo Abramovay na abertura do evento.

O professor Jackson é considerado um teórico do pensamento contemporâneo. Suas ideias sobre a economia da sustentabilidade ganharam até a simpatia do Príncipe Charles, que prefaciou o livro. Tim Jackson coloca como o maior dilema da atualidade conciliar nossas aspirações por uma vida confortável com as reservas de um mundo de recursos finitos. Em outras palavras: como podemos continuar prosperando - com uma população que passará dos 9 bilhões dentro de algumas décadas - sem que o crescimento econômico esgote nossas reservas naturais?

O estudioso relaciona o crescimento da prosperidade à elevação per capita do PIB. Para as nações mais pobres do mundo a meta de crescimento do PIB continua a ser uma lógica atraente. Mas o que ele questiona é se para os países ricos essa lógica ainda faria sentido, já que "as necessidades de subsistência estão amplamente satisfeitas e a proliferação maior do consumo pouco acrescenta ao conforto material".

Ao defender uma forma de prosperidade mais sustentável e equitativa, Tim Jackson sabe que encontra resistência por parte de muitos economistas, uma vez que as correntes de pensamento econômico dificilmente enxergam a ideia de prosperidade desvinculada do crescimento do PIB e do aumento contínuo da receita dos países. Nesse ponto é que ele propõe uma nova visão de prosperidade em que seja possível fazer com que os seres humanos encontrem níveis mais altos de bem-estar e ao mesmo tempo se reduza o impacto material sobre o ambiente.

O especialista em desenvolvimento sustentável aponta como o maior vilão do desequilíbrio ecológico o excesso de emissão de dióxido de carbono, responsável pelo aquecimento global. Ao fazer uma projeção para o futuro, levando-se em consideração uma prosperidade partilhada num mundo de 9 bilhões de pessoas, Jackson acredita ser impossível imaginar que não haja implicações para o carbono. "A menos que o crescimento em nações ricas seja freado, ou ocorra algum tipo de revolução tecnológica inesperada", desafia.

Uma de suas propostas, que foi analisada durante o debate pelo Prof. Samuel Pessoa, da FGV, diz respeito à alteração do sistema corrente de contas nacionais, a forma como as nações medem tudo que consumimos, investimos e produzimos, que atualmente não considera o impacto de nossas ações sobre o meio ambiente. Jackson acredita que para lidar com o problema do excesso de crescimento ou a incapacidade do sistema de contas de refletir corretamente o valor do crescimento, seria necessário incorporar os ativos ambientais nesses cálculos e que as medidas de PIB fossem corrigidas de forma a considerar esses efeitos.

Samuel Pessoa disse que é impossível não concordar com a proposta. "Parece-me que essa é uma agenda que os economistas não têm a princípio muito problema. O aperfeiçoamento das contas nacionais é um projeto permanente em função da melhora das estatísticas, mas também em função das alterações da tecnologia e do ambiente econômico em geral".

O professor Tim Jackson também critica a forma como estamos lidando com a crise global. Ao invés de combater a crise com mais crédito e consumo, ele defende o estabelecimento de um conjunto de políticas públicas que desestimulem o consumo e priorizem investimentos em formas sustentáveis de crescimento, o que ele chama de "estímulo verde". Segundo ele, o que se vê hoje em dia nas economias mundiais é justamente o contrário: estamos incentivando o mesmo padrão de consumo privado que, em última instância, foi o que causou a crise de 2008, caracterizada por excessos de crédito no mercado.

Samuel Pessoa apoia a premissa de Jackson de que é impossível a humanidade continuar a crescer economicamente mantendo o estilo de vida das economias desenvolvidas ocidentais. O que ele não concorda é quando o especialista coloca o problema no crescimento econômico. "Não creio que o problema está associado à economia de mercado. Temos exemplos bem próximos de sociedades de baixo crescimento ou de crescimento zero que produziam desequilíbrios ecológicos imensos. O problema não está no crescimento ou em sua ausência, mas nas falhas de mercado. Não precificamos os custos ambientais de nossas atividades, sejam em economias de baixo crescimento ou não", justificou o professor da FGV.

Provocado no final do debate sobre se suas ideias partem de uma visão econômica, Tim Jackson afirmou: "I´m a philosopher". E não é para menos. Em sua concepção, a prosperidade não é sinônimo de riqueza material e os requisitos para a prosperidade vão bem além do sustento material. "A prosperidade tem mais a ver com nossa capacidade de florescer: física, psicológica e socialmente". E completa: "Ela depende de nossa habilidade de participar significativamente da vida na sociedade". 
Prosperidade sem crescimento – Vida boa em um planeta finito

Blog, em 01/06/2014
Por Cacilda Luna em 05 de Novembro de 2013 

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